quarta-feira, 27 de maio de 2009

I Parte

Quando cheguei a casa pus-me a pensar no que se tinha passado. Algumas atitudes daquela professora tinham me chamado à atenção. Parecia muito querida com os meninos. Contudo, o Tiago pareceu-me um pouco assustado com a presença dela. Não podia afirmar isso com exactidão, uma vez que só tinha lá estado uma única vez.
Já tinha ido a muitas instituições conhecer crianças. No entanto, nenhuma criança me tinha cativado tanto como o Tiago. Sinceramente, não sabia o que ele tinha para ser tão especial. Mas tinha a certeza de que o era. Sabia que tinham ficado coisas por dizer. Antes de me vir embora pedi à professora que me tinha acompanhado para me despedir do Tiago.
- Ele não gosta de visitas, Lara. Agradeco-lhe a atenção, mas esse menino realmente tem uns problemas de interacção.
Aquela resposta ficou me na mente. Problemas de interacção? Sim, realmente ele pareceu muito menos adaptado àquele meio do que qualquer outra criança. Contudo, não me acreditei que fosse esse o seu problema.
Conversei com o Pedro - o meu marido - sobre o assunto. E expliquei-lhe que fiquei mesmo impressionada e que gostava de lá voltar. O Pedro nunca se opôs a estas minhas visitas periódicas a instituições. Contudo, também não se oferecia para me acompanhar.
Quando nos fomos deitar, custou-me adormecer. Só conseguia pensar nesta visita à instituição. Estava disposta a ir novamente lá na próxima semana.
A semana passou com tranquilidade. Peguei por várias vezes no telemóvel para ligar à directora da instituição, mas perdia sempre a coragem. Deu-me a impressão que elas não gostavam que pessoas de fora se aproximássem muito dos miudos. Eu gostava de perceber o verdadeiro motivo. Organizei a minha agenda e decidi que na sexta-feira iria sair mais cedo do escritório para ir visitar os meninos. Falei com o Pedro, mas ele não se mostrou disposto a ir, justificando que tinha muito trabalho no consultório.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

I Parte

No sorriso dele eu já não via mais o receio. Pensei em quebrar o silêncio entre nós, mas antes de eu acabar de pensar nisso apareceu um rapazinho que se pôs à nossa frente e disse um 'olá' cheio de emoção.
- Olá. - respondi, tentando corresponder com a mesma emoção.
- Venha brincar connosco à apanhada. - disse ele, ignorando a presença do outro rapaz que estava sentado ao meu lado.
- Vens? - perguntei ao outro rapazinho que tinha cativado a minha atenção.
- Não, prefiro ficar aqui.
Mordi o lábio e pensei numa resposta simpática para dar ao rapaz cheio de energia que estava de pé à minha frente.
- Vou já lá ter.
- Mas venha mesmo, porque o Tiago não vem de certeza. - disse ele, virando as costas e voltando a brincar à apanhada no pátio.
Eu olhei para o Tiago, tentando perceber o que o outro rapaz quisera dizer com aquele comentário. Ele não respondeu, apenas encolheu os ombros e olhou para outro lado.
- Então chamaste Tiago, certo? - perguntei.
- Sim. E você? - perguntou com timidez.
- Chamo-me Lara. Podes me tratar por tu. - disse a sorrir.
O Tiago correspondeu com um sorriso simpático. Era um rapaz muito giro: olhos castanhos, cabelo escuro e pele escura. Tinha a estatura de um menino de nove ou dez anos.
- Posso saber o que vieste cá fazer? - perguntou, arregalando os olhos.
- Vim fazer uma visita. Gosto muito de crianças, sabes.
Ele abriu a boca, deixando-me na expectativa de que queria dizer algo que não disse, pois voltou a fechá-la e olhou novamente para o lado. De repente, olhei para o pátio para observar os outros rapazes que lá estavam a brincar e vi uma senhora de bata vermelha a ralhar com eles. Levantei-me para ir saber o que se passsava e olhei para o Tiago.
- Vens comigo?
Ele não respondeu. Levantou-se e deu-me a mão. Já tinha reparado que o Tiago não gostava muito de falar. Quando chegámos à beira da senhora eu apresentei-me.
- Olá, eu sou a Lara. Estou cá de visita.
- Olá, Lara. Eu sou a professora deles, a Cândida. - disse de forma simpática, fazendo uma breve pausa. - Tiago, o que estás a fazer aqui fora? Vai para a sala de convívio, querido, não podes apanhar vento.
O Tiago olhou para mim e largou-me a mão. Sorriu e disse-me um 'adeus' baixinho que quase que não ouvi. Enquanto ele saía pela porta do pátio, vi-o sair a passo acelarado.
- O Tiago está doente?
- Sim, mas já está melhor. - respondeu-me com naturalidade. - Pedro, não empurres o Afonso! - gritou com um dos meninos.