- Olá Cândida.
- Olá, Lara. Estou a ver que gostou de vir cá. - disse com um sorriso na cara.
- Sim, gostei muito. - respondi com sinceridade.
Reparei que a professora olhava atentamente para a minha mão que estava dada com a do Tiago. Ele tinha vestido uns calções vermelhos e um uma t-shirt também vermelha. De repente, mais rapazes chegaram para me felicitar. A maior parte deles vinha com a testa suada de estarem a jogar à bola, mas mais uma vez o Tiago não tinha estado com eles. A professora Cândida levou-nos até à sala de estudo e disse para eles fazerem desenhos. O Tiago raramente saía do pé de mim. E, desta vez, ria-se e falava de tudo. Estava bastante mais solto do que da última vez.
- Vou fazer um desenho para ti. - disse-me a sorrir. - O que queres que desenhe?
- Olha, faz o que quiseres. O que te vier à mente.
- O que queres que desenhe? Diz, vá lá. - insistiu.
- Desenha como vês o mundo.
Durante quinze minutos não falou comigo e eu aproveitei esse tempo para conversar com a Cândida. Às vezes sentia que ela insinuava que não queria que voltasse a visitar estas crianças.
- Sabe, Lara, estas crianças são muito carentes. Necessitam de muito amor e às vezes as pessoas que vêm visitá-las dão-lhes esperanças, alimentando-lhes os seus sonhos. E depois quando se fartam de vir cá, deixam de aparecer sem explicarem às crianças a situação. Por isso é que nós andamos a cortar as visitas tão regulares aqui...
- Pois, eu calculo. Mas tem de compreender e ter em conta que nem todas as pessoas são iguais. Eu era incapaz de fazer isso, se voltei cá uma segunda vez é porque gostaria de voltar mais vezes e com maior regularidade. Quando saio daqui, você não imagina mas não penso noutra coisa. Estas crianças enchem-me o coração, Cândida. - disse, mostrando o que sentia. Não sabia se iria facilitar ou não as coisas, mas na verdade era o que eu sentia e saiu-me espontaneamente.
- Já está. - interrompeu o pequeno Tiago, estendendo a folha na minha direcção.
O desenho estava lindíssimo. Aquela representação sobre o mundo estava digna de um artista. Por trás via-se um muitas cores que deveriam corresponder a um arco-íris muito original. Em primeiro plano via-se uma criança a olhar em direcção ao céu de onde surgia uma luz amarela.
- Está muito muito bonito, Tiago. Esta luz amarela...
- É Deus. - disse muito rapidamente, corando.
- E este és tu? - perguntei, curiosa.
- Sim.
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